Peça “Vale de Flores” de um jogo pedagógico em desenvolvimento numa parceria entre a ADPAC e o @AESIA …
A Quinta de Vale de Flores é uma Quinta de recreio suburbana quinhentista, considerada dos poucos e mais significativos exemplares da arquitetura civil renascentista portuguesa. Segue o modelo da villa italiana do renascimento, cujas características se sobrepõem às, eventuais, persistências medievais e à tradição da casa rural portuguesa (conforme João Vieira Caldas).
A casa tem dois pisos e numa das alas encaixa-se, parcialmente, um piso intermédio Está implantada no desnível mais acentuado do terreno com projeto adaptado à sua modelação, embora impercetível do exterior. Tem planta quadrangular com duas excrescências – a nascente adossa-se a capela e a poente uma cozinha ,eventualmente, anteriormente (ao século XVIII ?) com outra estrutura e funções ( um telheiro/terraço ?) O piso superior destinava-se a habitação e os pisos intermédio e inferior a armazéns e zona de lagar . Tem como fator identitário a loggia que rasga no piso superior toda a fachada sul . No exterior, a propriedade organiza-se em socalcos e a “ arquitetura da água”- mina , tanques , poços e , aquedutos são elementos de grande valor neste património; destacando-se, neste último caso o aqueduto de cima com a sua arcaria e troço subterrâneo .
Encontra-se classificada globalmente como IIP ( Imóvel de Interesse Público) desde 1982 ( Dec.º 28/82) e tem Z.E.P. ( Zona Especial de Proteção). estabelecida no mesmo ano, mas com alterações posteriores . Possui o número de registo de inventário IPA.00006316 (SIPA / Sistema de Informação para o Património Arquitetónico ).
Foi mandada edificar em meados do século XVI por Jorge de Barros – mercador e homem da corte e da confiança de D. João III, que enriqueceu com o comércio da especiarias. Foi o feitor do monarca na Flandres até cerca de 1538. A fortuna de Jorge de Barros, considerada uma das maiores do reino, foi reunida em morgadio , instituído por ele e pela sua mulher – Filipa de Melo – em 1556, para cuja cabeça elegeram a sua Quinta de Vale de Flores. Por falta de descendência direta de sua filha – Luísa de Barros – a administração do vínculo passa a uma linha colateral : os Barros e Vasconcelos . Esta administração, com raríssimas exceções foi desastrosa, tendo-se “espatifado” toda a fortuna “ e deixado arruinar a “ joia quinhentista “. A propriedade saiu, definitivamente, da posse desta família no final do século XIX , passando à posse da Reynolds que a arrendou . São estes rendeiros – uma família local, os Mendonça – que exploraram a quinta como propriedade agrícola associando, também, a pecuária . A casa que chegaram a habitar uma parte, serviu sobretudo, ao longo de quase um século, para apoio a atividades agrícolas : armazém , pocilga vacaria… . A designação de “Palácio das Abóboras “, porque é conhecida localmente, advém desta ocupação, concretamente do facto de serem secadas abóboras na sua iconográfica varanda. Em 1998, no âmbito , da viabilização do traçado do IC2 os limites da classificação são reduzidos, destruídos dois tanques (um que funcionava, também, como um espelho de água) e os rendeiros saem da propriedade .
É neste contexto, em 1999, que se forma uma Associação de Defesa do Património de Santa Iria – a ADPAC – que inicia o caminho que leva ao (re)conhecimento dos valores deste património e ao seu renascimento: Reúne conhecimento, especialistas, sensibiliza poder politico e técnicos autárquicos. São estes factos que serão determinantes nos processos que conduzirão de forma exemplar . à reabilitação e deste património ( em curso nesta data – 2022).. Em 2005 dá-se a aquisição da propriedade pelo Município e inicia-se a procura de parceiros para financiar a reabilitação. Esta inicia-se em 2018, promovido pelo Município e subsidiado por Fundos Europeus: a primeira parte – a única assegurada por projeto e por recursos financeiros – consiste numa intervenção de consolidação estrutural e conservação/recuperação de alguns elementos arquitetónicos, incluindo a a colocação da cobertura ,fecho de vãos e reconstrução da loggia.. Este ciclo da obra , após conclusão, permitirá , o usufruto público pontual da casa mas não a adaptará a uma função definitiva ( ainda não encontrada /conhecida)