A quinta de Vale de Flores para os mais novos
A QUINTA DE VALE DE FLORES
O “ Palácio” de Vale de Flores, é conhecido entre a população local pelo “Palácio das Abóboras”. Tal designação deve-se ao facto, de no século passado, as pessoas que cultivavam a Quintae colocarem abóboras na sua varanda. É o monumento mais importante de Santa Iria da Azóia uma vez que representa um tipo de casas construídas no século dezasseis, que são muito raras em Portugal e que praticamente não foi modificada durante 500 anos . Mas não é só o Palácio que é importante a Quinta a que ele pertence, com os aquedutos tanques e poços também têm muito para nos ensinar. É pois uma pena que esteja abandonado e degradada.
História
Jorge de Barros viveu há cerca de 500 anos e era um nobre que se dedicou ao comércio, tendo, em consequência disso, feito uma das maiores fortunas do reino. Era um homem próximo e de confiança de D. João III e foi seu feitor na Flandres..
Quando regressou a Portugal e depois de ter passado aproximadamente 3 anos em Roma, numa missão secreta ao serviço do rei, mandou construir uma casa no centro da sua Quinta, situada no lugar de “Villa Ralla” (nome pelo qual era então conhecida “Via Rara”) perto de Santa Iria. Esta era a sua casa de campo, uma vez que ele vivia na cidade de Lisboa. É provável que a sua viagem a Itália e o seu contacto com muitas pessoas cultas da época tenham influenciado o “desenho” desta “Quinta de Recreio”. Nela terá passado, certamente, longas temporadas, usufruindo dos bons ares e da qualidade da água, que naquela altura havia em Santa Iria. Não é também difícil imaginá-lo sentado na extensa varanda da casa admirando as magnificas vistas:
- Ao perto, os jardins da sua propriedade, eventualmente com ervas aromáticas laranjeiras, limoeiros e latadas e a ribeira que a atravessava.
- Ao longe, terras cultivadas banhadas pelo Tejo que corria para o mar.
De todas as suas propriedades, que eram muitas, ele elegeu como principal a Quinta de Vale de Flores – ela era “cabeça do morgadio “ que ele instituiu com a sua mulher D.Filipa de Mello.
Jorge de Barros mandou também fazer uma capela na igreja de Santa Iria para sua sepultura e de seus descendentes . Esta capela é parecida com a capelinha que pertence à casa.
Depois de Jorge de Barros e de sua mulher terem falecido, sucedeu-lhes na administração das propriedades sua filha, Luísa de Barros, casada com Jorge da Silva, poeta, amigo de Camões e conselheiro do rei D. Sebastião. Uma vez que este casal não teve filhos a herança passou para um primo que se chamava Jorge de Barros e Vasconcelos. Este e os seus descendentes, ao longo de três séculos, continuaram a utilizar a quinta como casa de campo até que, por volta de 1899, foram obrigados a ter que se desfazer dela por se encontrarem “falidos”. Poucos anos depois uma família muito rica – a família Reynolds, que se dedicava a agricultura, adquiriu-a , juntamente com muitas outras propriedades nesta freguesia. No entanto nunca habitou a casa. Alugou toda a propriedade à família Mendonça ( conhecida pelos Fortunatos). Esta que durante aproximadamente noventa anos cultivou a Quinta, apenas nos primeiros anos utilizou o “Palácio” como habitação, o qual serviu durante muitos tempo de estábulo e e armazém. Apesar de em 1982 o Estado ter protegido a Casa e a Quinta por uma “ lei”, por considerar que eram muito importante para a Cultura Portuguesa, o seu uso não foi alterado nem se fizeram quaisquer obras; Para se poder construir uma estrada, por volta de 1998 a “ lei “foi alterada para permitir a destruição de parte da Quinta. Nessa altura a família Mendonça deixou a propriedade e esta passou a não ter qualquer ocupação. Em 2005 a Câmara Municipal de Loures comprou a Quinta , mas até à data muito pouco se alterou, continuando a quinta a degradar-se .
Há cerca de uma década um grupo cidadãos de Santa Iria assumindo as suas responsabilidades na defesa deste património iniciaram uma caminhada determinados a contribuírem por todos os meios ao seu alcance para preservação da Quinta de Vale Flores . Centraram os seus esforços não em encontrar culpados para o estado em que chegou esta jóia de Santa Iria , mas sim em encontrar e propor caminhos, envolver e sensibilizar entidades responsáveis e académicos , conhecer e dar a conhecer este “ bem comum”. É neste âmbito e dentro da mesma filosofia que nos parece oportuno a criação desta página para de uma forma mais alargada , partilhar conhecimento e preocupações , juntar sinergias, propor e discutir soluções.
Todos são bem vindos se vierem por bem da Salvaguarda da Quinta de Vale de Flores .
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