Cronologia de Santa Iria da Azóia

Notas sobre a evolução administrativa  e territorial de  Santa Iria da Azóia

 De entre as várias significações do vocábulo de origem árabe “azóia”, aquela que nos parece mais plausível para o explicar no topónimo desta freguesia, é a seguinte:

 “Azóia – do árabe zâwiya (recanto) é: o edifício-sede de uma Irmandade Espiritual sufi e residência do respectivo Mestre, com sua família e servos. Era um lugar de iniciação e de instrução filosófica e espiritual. Dispunha de celas para os neófitos, jardins e, não raramente, de uma pequena mesquita. (…) eram, interiormente, lugares de silêncio, recolhimento e calma. Porém, ao seu redor movimentava-se uma romaria de neófitos, viandantes e peregrinos, que traziam oferendas e procuravam beneficiar do influxo espiritual do Mestre, a quem se reconhecia o poder de curar as doenças do corpo e da alma…[1]

Há vários indícios que nos levam a considerar como hipótese plausível que as raízes desta freguesia estejam numa zâwiya (ou rabitat) que terá tido, na época, alguma importância[2]. Com base em documentação encontrada temos como certo que pelo menos o território que, grosso modo, corresponde aos limites da freguesia de Santa Iria da Azóia e de Vialonga (pelo menos em grande parte) se designaria por “Azoya”. O topónimo terá subsistido durante vários séculos – encontramo-lo com muita frequência em documentos do século XIV e XV relacionado com lugares desta freguesia.   

Podemos considerar que a paróquia teve origem nos finais século XIII, quando Maria Esteves e Aires Martins (secretário da Puridade do rei d. Dinis), mandaram edificar uma igreja com a evocação de Santa Iria numa das muitas propriedades que tinham na Azóia- « en remimento de nossos pecados hedifficamos e ffezemos na dicta nossa herdade da Azoya egreja aa honrra de sancta Eyrea ordinhando que fosse come capella sogeyta a adicta egreja de Sancto André [3]». No testamento de Maria Esteves (1343) e do filho, Estêvão Martins (1308),  aparece a denominação “Egreja de Sancta Eireia da Azoia”. Foi, até às alterações administrativas do século XIX, uma paróquia anexa á de Santo André de Lisboa. É referida em 1654, no mais antigo diploma oficial conhecido que enumera as freguesias e lugares do termo de Lisboa ( lei de 20/8/1654). Sabemos que pelo menos desde o século XV era uma das freguesias que o integrava[4]. Nessa altura, para além dos lugares actuais, englobaria também a Póvoa de D. Martinho; Vialonga e Granja de S. Sebastião de Alpriarte (como freguesias anexas?) e ainda o “Monteiro Mor”[Granja de Santa Iria ]. Pertenceu em termos administrativos/judiciais, sucessivamente, aos Bairros do Limoeiro, da Ribeira e finalmente no de Alfama (1º distrito). Embora, como vimos, a denominação da igreja e consequentemente da paróquia tenha integrado o topónimo Azóia, este parece ter sido esquecido, sobretudo entre os séculos XVI e XVIII. A freguesia, nesta altura é frequentemente identificada apenas como Santa Iria do Termo de Lisboa) ou como Santa Iria além da Barca de Sacavém.

Em 1755 Englobaria os territórios correspondentes às actuais freguesias de Santa Iria da Azóia, Póvoa e parte da de Vialonga (“Monteiro – Mor”).

Em finais de 1836 em sequência da remodelação administrativa (decreto de 6 de Novembro) deixou de integrar o Termo de Lisboa e passou a pertencer ao concelho de Alverca, Comarca de Ribatejo, e Juízo de Direito de Vila Franca de Xira”(incluiria, grosso modo, o território de 1755). No decreto que determinou esta alteração administrativa a freguesia aparece denominada como “Santa Iria da Póvoa”[5]

Em  1855,  pelas extinção do Concelho  de Alverca  passa a fazer parte do Concelho de Vila Franca

 Em período não determinado entre 1836  e 1886, aparece designada por Povoa ou Povoa de Santa Iria em várias corografias[6]. Englobava nesta altura os seguintes lugares : Santa Iria; Povoa de D. Martinho; Pirescouche; Via Rara; Manjões; Casais da Vinha dos Padres; Quintais; Mendonça; Serra; Quinta da Anaia; Quinta Ferral;  Quinta da Pardaleira; Quinta do Lagar Novo;  Quinta de Val de Flores ; Quinta Siloque; Quinta da Bolonha; Quinta da Piedade; Quinta da Fervença; Quinta Caniços de Baixo; Quinta do Monteiro Mor ; Quinta do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Azoia[7]. As informações disponibilizadas “em linha”pelo INE sobre os censos de 1868 e 1878  referem  erradamente, no nosso entender,  que  Santa Iria foi incluída para esse fim  na freguesia de Loures. Salvo melhor opinião, os dados  referentes a este período  constam no  concelho de Vila Franca, “freguesia da Povoa “ pelas razões acima expostas.

Em 1886,  com a criação do  Concelho de Loures a freguesia com a  área   referida em 1864,  excluindo provavelmente o “Monteiro Mor” e retomando provavelmente a designação de Santa iria da Azóia[8]  passou a integrá-lo[9][10].

Em  1896  em 28 de Julho por alvará do governador civil de Lisboa a antiga freguesia de S.João da Talha passa a  fazer parte da freguesia de Santa Iria da Azóia

Em 1916 É criada a freguesia da  Póvoa de Santa Iria com os seguintes limites: pelo norte, o Rio Caniço; pelo sul, a Quinta do Casal Novo e a vertente conhecida pelo nome de Regueirão de Adrião; pelo nascente, o Rio Tejo; e pelo poente, a linha confinante com a freguesia de Vila Longa. Sofrendo os limites da  freguesia de Santa Iria da Azóia a correspondente redução.

1939 – Em 1 de Março é desanexada da freguesia de Santa Iria da Azóia a ”antiga freguesia” de S.João da Talha com a área que tinha á data de anexação (1896)

1988 – Santa Iria da Azóia é elevada a vila (Lei nº 22/88 de 1 de Fevereiro)

2011 – (em Maio ?)  acordados, entre as duas Assembleias de Freguesia   novos limites na fronteira com a freguesia de S. João  Talha.2013 – É agregada a S. João da Talha e Bobadela para criação de nova freguesia, denominada “ União das freguesias   de Santa Iria de Azóia , S. João da Talha e Bobadela . A sede é em Santa Iria da Azóia . ( Lei nº 11- A/2013 ; 28 de Janeiro )


[1] Visto em http://toponimialusitana.blogspot.com/2007/05/arrbida-atalaia-azia-cuba-e-cavalaria.html.

[2] Brevemente disponibilizaremos um texto onde fundamentamos essa convicção

[3] Excerto da transcrição do” Protesto de Maria Esteves relativamente aos bens doados à Igreja de Santo André de Lisboa por ela e seu marido Aires Martins” (26 de Janeiro de 1333) , feita por Isaías da  Rosa Pereira “ As obras de Misericordia na Idade Média/As Mercearias de Maria Esteves” in, A pobreza e a assistência aos pobres na Península Ibérica durante a Idade Média. Actas das 1ªs Jornadas Luso-espanholas de História Medieval, Lisbon, 25-30 September 1972, t. II, Lisbon, Instituto de Alta Cultura, 1973, p 737

[4] ANTT/ Arq. Viscondes de Vila Nova de Cerveira, cx. 10, n.º 12 – “Instrumento de arrendamento de dois casais, um no Estebal e o outro na Agieira, feito por Afonso Nogueira, provedor do morgado de Mestre Pedro, a Álvaro Gago, morador na Boca da Lapa, freguesia de Santa Iria, termo de Lisboa” (1435-08-16)

[5] SILVA, Augusto , Dispersos vol. I ; 1968  (visto formato pdf em http://geo.cm-lisboa.pt/fileadmin/GEO/Imagens/GEO/Livro_do_mes/Vieira_da_Silva/Dispersos/MON_69-P_PART_01.pdf , pp 56 -57).

[6]  da “Chorografia moderna do reino de Portugal  de João Maria  Baptista (1876), vol. IV  p 814   ( consulta “em linha” http://www.archive.org/stream/chorographiamode04baptuoft#page/744/mode/2up. ;   do ” index alphabetico da   Corografia Portuguesa… de Antonio Carvalho da Costa; actualização da 2ª edição (1869) ; pp viii e xii do ( consulta “em linha em http://books.google.pt/books?id=wKFCAAAAYAAJ&pg=PP17&dq=corografia+portuguesa+Antonio+Carvalho+da+Costa+1869&hl=pt-PT&ei=K1CbTI_kKZOj4QaVm9WAAQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCsQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false )da “Chorografia moderna do reino de Portugal  de João Maria  Baptista (1876), vol. IV  p 814   ( consulta “em linha” http://www.archive.org/stream/chorographiamode04baptuoft#page/744/mode/2up.”Chorografia moderna do reino de Portugal  de João Maria  Baptista (1876), vol. IV  p 814   ( consulta “em linha” http://www.archive.org/stream/chorographiamode04baptuoft#page/744/mode/2up.   Chorografia moderna do reino de Portugal  de João Maria  Baptista (1876), vol. IV  p 814   ( consulta “em linha” http://www.archive.org/stream/chorographiamode04baptuoft#page/744/mode/2up “Chorografia moderna do reino de Portugal  de João Maria  Baptista (1876), vol. IV  p 814   ( consulta “em linha” http://www.archive.org/stream/chorographiamode04baptuoft#page/744/mode/2up.  “Chorografia moderna do reino de Portugal  de João Maria  Baptista (1876), vol. IV  p 814   ( consulta “em linha” http://www.archive.org/stream/chorographiamode04baptuoft#page/744/mode/2up.  “Chorografia moderna do reino de Portugal  de João Maria  Baptista (1876), vol. IV  p 814   ( consulta “em linha” http://www.archive.org/stream/chorographiamode04baptuoft#page/744/mode/2up

[7] Adaptado a partir de  João Maria Batista (ob. cit.)  -fez-se algumas correcções : referiu-se o lugar de Santa Iria em vez de Vª da Povoa , porque pensamos que era a este lugar que o autor se referia, considerando que menciona, mais à frente  Povoa de  Martinho; suprimiu-se Bolonha considerando que o autor refere mais á frente Quinta da Bolonha,  (salvo melhor opinião serão lugares coincidentes)

[8] Por até ao momento não nos ter sido possível consultar o respectivo decreto não nos é possível assegurar que seja esta a designação que lá aparece.

[9] https://digigov.cepese.pt/pt/pesquisa/listbyyearmonthday?ano=1886&mes=7&tipo=a-diario&filename=1886/07/26/D_0165_1886-07-26&pag=1&txt=loures

[10]https://debates.parlamento.pt/catalogo/mc/cd/01/01/01/020/1887-05-04/389?q=loures%2Bsanta%2Biria&from=1886-01-01%3C2%27&to=1888-12-31