A Oliveira Milenar do Bairro da COVINA

Em 2019, foi proclamado o Dia Mundial da Oliveira na 40.ª sessão da Conferência Geral da UNESCO. A partir dessa data, no dia 26 de novembro, governos e instituições de todo o mundo passaram a homenagear esta árvore que, pelo menos desde a antiguidade, é considerada um símbolo universal de paz, sabedoria e harmonia.

Neste ano de 2024 a Associação de Defesa do Património Ambiental e Cultural de Santa Iria da Azóia (ADPAC), associa-se à celebração através da publicação de um texto ilustrado que tem o objetivo de dar a conhecer a oliveira que faz parte da história da nossa vila há quase 3000 e que reflete a simbologia referida. Ao nível local esta árvore bem pode ser olhada adicionalmente como a bandeira na nossa identidade e o livro que nos ajuda a conhecer a nossa história e as bases de um correto e equilibrado ordenamento do território.

Trata-se de uma magnifica oliveira – Olea europea L. var europea – de grande efeito paisagístico, com fuste retorcido e dividido em dois cuja monumentalidade nos deslumbra. As raízes expostas, lembrando afloramentos rochosos, as rugas, a textura da casca, as contorções do seu corpo, as feridas e deformações que o tempo e a as intempéries lhe infligiram, não nos deixam duvidar que estamos em presença de um ser excecional que deve ser respeitado, valorizado e “escutado”.

Este monumento vivo ilustra bem as palavras de José Luís Louzada (investigador responsável pelo desenvolvimento do método que permitiu a sua datação):

– a oliveira é, sem dúvida, um dos seres vivos que mais resiste ao tempo, pela sua grande capacidade de rejuvenescimento – em teoria, pode viver uma eternidade, ultrapassando a idade das inúmeras gerações que passem pelo mesmo território.

Por iniciativa da ADPAC, em 2011, foi classificada Monumento ( Árvore de Interesse Público) pela então Autoridade Florestal Nacional e atribuída a idade (com margem de erro de 2%) de 2850 anos através de um método inovador, não evasivo desenvolvido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). https://expresso.pt/…/oliveira-com-2850-anos-e-a-arvore…. Foi, na altura, declarada a oliveira mais antiga de Portugal.

Os dados da ficha de inventário da AFN atestam objetivamente a monumentalidade desta oliveira : perímetro, na base, de 10,15m e de 5,5m à altura de 1,5 m ; a altura total é de 4,4 m e do fuste de 2m . Quanto à copa alcança os 8,7 m ( E- W).

Localiza-se em propriedade particular, no quintal de uma habitação no Bairro da Covina, na Rua 10 de julho, junto à “Rotunda do Vidreiro”, na proximidade do “Castelo de Pirescouxe“.

A classificação confere-lhe uma proteção semelhante à do património edificado classificado, incluindo uma zona automática de proteção; Por este facto, apesar de não ser propriedade pública, os donos, estão sujeitos ao cumprimento de algumas regras, nomeadamente não lhes é permitido o seu abate e as ações de conservação ( corte de ramos ) tem que ser feita com a autorização e orientação do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). E assim tem sido feito : por delegação desta entidade conforme foi transmitido à ADPAC a vistoria periódica e manutenção ficam a cargo da Câmara Municipal de Loures.

Se falasse esta oliveira – cuja memória poderá recuar aos contactos da população autóctone com os Fenícios – poderia ser uma preciosa fonte de informação dos tempos anteriores à instituição do Morgadio dos Castelo Branco, em 1442. Nesta data, já milenar, fazia parte do extenso olival deste vínculo que se foi mantendo mais ao menos inalterável até aos meados do século XX , quando se iniciou o processo de urbanização .

É também nesse momento de profundas alterações no território que este exemplar arbóreo é uma testemunha inspiradora da mestria de urbanizar respeitando a história e os valores do Lugar :

Quando a COVINA , em 1952, deu início aos primeiros Planos para Construção do Bairro para os trabalhadores da Fábrica a instalar no olival do Morgadio dos Castelo Branco, contratou o arquiteto Paisagista Viana Barreto . Este em parceria com o Arquiteto Rebelo de Andrade, projetou todo o Bairro integrado no olival e mantendo o máximo de árvores possível :

“Convem entretanto e desde já acrescentar-se que não deverá ser permitida a destruição do arvoredo existente no local senão aquele que fôr estrictamnte indispensavel à construção das habitações, arruamentos, etc., pois todo o restante será aproveitado na construção das zonas verdes, seja de caracter público seja privado.”

A história desta oliveira com cerca de 3000 ano num quintal do Bairro ,da sua valorização pelo proprietário e pela comunidade nacional – classificada de Interesse Público – podem ajudar-nos a compreender que é possível compatibilizar a construção com a manutenção do património arbóreo e que esse facto pode acrescentar valor ao território e às propriedades privadas.

Decisores esclarecidos e mais arquitetos paisagistas – na linha de pensamento de Viana Barreto , Ribeiro Teles, Álvaro Dentinho (entre outros) – associados a Câmaras, Juntas de Freguesia , Gabinetes de arquitetura e construção – e também nas faculdades – serão determinantes para o sucesso desta politica …

Sensibilizar é preciso… para que as gerações futuras tenham futuro!